
Quando sexta-feira (26) chegar, quem for procurar um bom filme nacional para ver no cinema pode ter uma grande surpresa: encontrar Selton Mello em nada menos que três produções. O ator já está em cartaz desde o dia 5 com “A mulher invisível”, ao lado de Luana Piovani. Nesta semana, estreia mais dois longas: “Jean Charles” e “A erva do rato”.
“Superexposição total”, define o ator. “Foi tudo que eu sempre tentei evitar. Mas por um lado vai ser bom, porque agora acaba tudo, e eu posso ficar sem fazer nada por um tempo.”
Mello não esconde que vem passando por um momento de reflexão e de rever conceitos em sua carreira. Tirou um tempo para pensar na vida, mas quis o destino (e o mercado cinematográfico) que todos os filmes que ele fez há tempos fossem lançados agora, juntos. Seu projeto mais recente é “Reis e ratos”, em parceria com Mauro Lima, diretor de “Meu nome não é Johnny”. “Tenho privilegiado projetos mais curtos, como foi ‘Reis e ratos’, com apenas 17 dias de filmagens. Está do meu tamanho”, afirmou em entrevista recente ao G1 .
O tempo livre, para “ficar sem fazer nada”, Mello vem investindo em seu novo projeto de diretor, que reflete justamente a crise existencial que enfrentou. “É a história de um palhaço em crise com a profissão, uma forma de sublimar o que eu passei, os questionamentos que eu tive sobre se valia a pena continuar ou não. A princípio eu pensei em atuar também, mas talvez por tratar-se de uma história tão pessoal seja melhor ter outra pessoa no papel. Estou na dúvida ainda, vou decidir mais para a frente. Sem pressa”, conta o cineasta.
De volta ao papel de ator, Mello embarca na viagem de Julio Bressane em “A erva do rato”, longa livremente inspirado “A causa secreta” e “Um esqueleto”, de Machado de Assis. O filme, que representou o Brasil no Festival de Veneza 2008, traz as marcas do experimentalismo do cineasta ao contar a história de uma casal (Mello e Alessandra Negrini) que se conhece num cemitério e que desenvolve uma relação estranha, sozinhos, dentro de uma casa com ratos. “O filme é lindo. É tipicamente um filme de Bressane”, define Mello.
A outra estreia da semana traz o ator como Jean Charles de Menezes, o brasileiro que foi assassinado pela polícia no metrô de Londres após ser confundido com um terrorista. O filme, intitulado apenas “Jean Charles”, conta a vida que o eletricista levava na Inglaterra, e mostra como vive a comunidade brasileira local. “O Henrique [Goldman, diretor] tinha muitas armadilhas diante dele, poderia glorificar o Jean Charles, transformar a morte dele num episódio espetacular. E não fez nada disso. O filme é cru, gostei muito”, afirma o protagonista.
“Como o processo ainda está correndo, havia uma preocupação em como esse personagem seria trabalhado. Achei que ficou cheio de relevos, de verdade. Fui muito cuidadoso também ao interpretá-lo. Conheci os amigos dele e familiares que também viviam em Londres, então perguntava tudo. Os sentimentos, o jeito dele, fui colhendo informações para criar o meu Jean.”
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Do G1, em São Paulo.
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