quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Embates


Ontem, a caminho do centro da cidade, debati religiosidade com um católico.
Tempo e causa perdidos? Bem, quase isso. Na verdade, gosto de perder meu tempo e por minha causa à prova quando o assunto é fé e espiritualidade. Ali, no calor do embate, é quando vejo o quão ateu e tolerante eu sou.
E assim foi.
Durante alguns minutos de tradicional troca de juras respeitosas, algumas farpas lançadas a esmo - já que ninguém queria ofender - e evidente discordância entre os lados, só paz e tolerância.
Mas, em determinado momento, no alto de sua crença e a fim de dar o desconcertante debate por encerrado, o católico afirmou:
- Ah, você é ateu, mas acredita em alguma coisa. Sei lá, se não acredita hoje, vai acreditar amanhã.
Eu ri e resolvi que aquilo já era suficiente. Afinal, qualquer resposta que eu desse seria mal interpretada àquela altura. Rumei para o meu objetivo, cumpri minhas obrigações e iniciei minha volta para casa.
Já no ônibus, pensei naquela conversa de horas antes.
Minha conclusão foi simples.
Estou infectado pelos valores cristãos há tempos! Nasci, cresci e continuo envolvido nisso tudo, é inevitável. E óbvio. Talvez o que a pessoa quisesse dizer se referia a isso.
Apesar de eu não ter nenhum valor religioso, tais características da criação cristã demoraram a se desprender de mim. A culpa, por exemplo, ainda se faz presente - no meu caso, claro, sem a idealização do paraíso - quando entro em conflitos e nego favores.
Assim, o debatedor de Cristo podia até estar certo. Talvez quando mais velho e cansado, eu me torne religioso. Quem sabe?! Mas até lá vou continuar discordante, empenhado nos debates e fazendo coro a Saramago...
Ao falar de seu novo livro, "Caim", o escritor reconheceu que o assunto religião o interessava, já que, apesar de ser ateu, não pôde escapar dos valores cristãos. Segundo ele, "não há um ateu absoluto, pois só poderia ser (ateu) aquele que vivesse em uma sociedade na qual Deus não tivesse penetrado".

É... Posso ser ateu com um pequeno percentual de catolicismo, mas não nego. Não sou hipócrita como os próprios religiosos.

Um comentário:

Julia Passos disse...

De fato, quanto mais velhas as pessoas ficam mais religiosas se tornam. Não que isso seja uma regra, mas serve pra maioria das pessoas que eu conheço. Acho que o medo do fim enfraquece as pessoas e elas acabam pendendo pra religião por ser um caminho mais fácil.