quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Fulcro d'alma


É noite de sexta e o chacoalhar típico faz-se presente. Nas ruas, a energia que poderia mover o mundo surge outra vez.
Cidades inteiras em movimento constante refestelam-se sob o alegre véu da redenção da pausa. Tudo que corria agita-se agora de outro modo.
Os tambores rufam através das batidas mil que avançam pela noite: mosaicos musicais formadores de uma trilha difusa e solene que se arrasta pela noite. Carros a toda esquentam os motores, enquanto seus ocupantes vasculham o mundo exterior. Este, por sua vez, abre-se oferecido.

Os sinais fecham. Bandos atravessam a ruas enfeitados com a melhor indumentária, emplastrados com os melhores cremes e essências. O cheiro da juventude e da empolgação espalha-se com o vento incessante dos veículos. Dá para sentir a excitação boêmia e pueril em cada tom de voz e sorriso.

Alguns, no entanto, seguem contra tal fluxo embrenhando-se cada vez mais no labirinto bairresco do descanso, ao passo que a movimentação torna-se rarefeita, quase imperceptível, e as casas silenciam, em tons de luzes opacos e sonolentos. Afinal, algo tem de permanecer ileso, imóvel e são. Assim são os tugúrios, zelosos. Refúgios à espera daqueles que buscam liberdade insana e semanal.

Mais tarde, enfastiados, os habitantes ausentes,haverão de deitar-se aguardando o anoitecer de sábado - a última ode contra a cerviz quíntupla que se inicia já na noite de domingo.

Um comentário:

FalsoPrisonBlues disse...

Vai me dizer que a noite não é um assunto interminável para qualquer tipo de literatura?
Mais uma vez, post maravilhoso