
No começo o vácuo da vida me levou. Flutuei pelos caminhos indecifráveis da internet e cheguei até ele, o antipoeta. Foi no vazio de uma vida modorrenta e adolescente que ri ao ouvi-lo. Mas ele não é só risos, não.
Rogério Skylab, para um bem treinado ouvinte de música brasileira, soa provocador. Afinal, ele é avesso. E, por vezes, avesso do avesso.
Deve ser isso mesmo, já que o vácuo é "um buraco no meio com o vazio dentro" e de tanto ser vazio e profundo, vira ao contrário.
Numa de suas músicas, ele canta: "Quem que furou, quem que furou, Um furo no meio de mim, furo de que, furo de que, Eu tava bem, eu tava bem, Um furo no meio de mim, Mais uma vez, mais uma vez. O dia nasceu, o céu tava azul, Um furo no meio de mim, Não entendo bem, não entendo bem..."
Sim, ele canta isso! E apresenta-se sempre com a mesma energia mórbida e célere de um velho esquálido. Dança, requebra, faz gestos e atira em pássaros imaginários.
Percebe-se, numa olhadela mais amoral, sua temática contrária ao bom senso e ao ecochatismo. Falar do câncer da Ana Maria Braga, por exemplo, não é nada louvável num mundo de respeito cego mútuo.
O mais interessante é que cada um vê um sentido nele.
Alguns riem, atordoados. Devem pensar que é só brincadeira. Outros, no entanto, riem de forma mais amena, tentando esmiuçar os palavrões e afrontas de suas composições para encontrar algum sentido.
Mas, cá entre nós, não vale a pena ficar aí flutuando nessa viagem dele fingindo entender cada letra e arriscando, por exemplo, que o câncer anal - da Ana Maria Braga, do falecido ex-governador Mário Covas e do próprio Skylab - pode ser a morte. Afinal, a primeira tá morrendo, o segundo já morreu e Rogério ainda vai morrer.
Dizem que sua música não é cultura, que ele não é músico, mas sim comediante. Dizem muito a seu respeito. Aliás, todos sempre têm muito a dizer sobre tudo.
Mas, no fundo, Skylab é um dos únicos que assume que tem um furo no meio de si. O único que deixa fluir esse vazio de existir.
Um comentário:
É meio que como alcachofra irmão, a pessoa pode para apenas no ponto de olhar para ela sem entender o que fazer com ela, e deixa-la de lado, ou a pessoa pode conseguir ir mais além e chegar no coração dela e fazer uma descoberta gastronomica incrivel. Questão de quão fundo você consegue ir. Ao meu ver, é claro. Abraço cara, e valeu por resolver o mistério do Peito de Aço, esperava algo mais interessante, mas obrigado pela solução, por que para ser sincero estava pensando mais em algo do domínio do oculto, e não algo do domínio do rap rs
Abraço cara!
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