quarta-feira, 23 de junho de 2010
O silêncio arraigado
Bukão fumava. E fumava um cigarro atrás do outro.
Tirava seus "amigos" - como ele próprio chamava os cigarros - do maço e consumia-os, reduzia-os e eles desapareciam. Como os amigos que já tivera, aliás.
Não! Ainda tinha amigos. Só não sabia seus nomes. Desesperou-se. Como ele, eles não têm nome, não têm companhia, e são desiludidos errantes inveterados, como pipas presas nos fios: já voaram, mas agora apodrecem presos ao próprio fim.
A questão não é a velhice em si, mas a desistência, a aceitação da mágoa. Nem todos se livraram da angústia de não superar as malditas promessas da juventude, pensou Bukão.
Até que, por um instante, silêncio. Não pensou mais em dor e mágoa. Levantou-se, ligou o rádio e uma antiga canção encheu a sala.
Música e mágoas antigas, então, atrelaram-se. Bukão sorriu, como de praxe. Ria sempre da desgraça e da perdição. Rir fazia-o sentir-se vivo.
Era doce o gosto da solidão. Era solene aquela velha canção.
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