quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Nihil Verum Nisi Mors


Eu existo por pensar, segundo Descartes. Eu existo, mas será que isso significa grande coisa? Eu estou inerte, sentado nessa cadeira desconfortável e com os olhos semi-cerrados. O escritório pequeno está artificialmente frio graças ao ar-condicionado.
É como se cada músculo de meu corpo estivesse congelado. Eu só sei que estou assim desde quando cheguei.
Abro um pouco mais os olhos e contemplo o teto branco sujo. O ar fresco a minha volta é enjoativo e cheira a pó. Como isso tudo é falso!
Os sons lá de fora também nunca pertenceram à merda alguma, mas agora eram comuns, rotineiros, normais... Eu não sou obrigado a gostar, mas me acostumei. E esse ar, puta merda! Só está ligado porque não suporto o calor tropical. Calor, aliás, presente graças aos veículos que aceleram e buzinam lá fora. Dane-se a fumaça que entorpece nossa mente! E essa droga toda sobre consciência ambiental,então?! Tornou-se moda! Que se dane isso também!
Nessa situação e nessa posição, que lembra um corpo putrefato, constatei algo sem me sobressaltar: estou profundamente Insatisfeito comigo e com o mundo e isso também pouco importa.
Já pestanejei aos quatro ventos, mas porque então não me levanto? Acredito na insatsifação como peça fundamental da gana e vontade humana, mas porque não me levanto? Porque não movo um membro sequer?
Balanço então, negativamente, a cabeça. Ah, como é doce essa sensação... Ceticismo puro, sujeira e dano causados pela rotina. Enfim, estou satisfeito com essa insatisfação. Este sou eu, um morto que apodrece levemente todos os dias, mas que, ao menos, tem a consciência disso.

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