
Redentor soberano do mais profundo vilipêndio, Bukão sentia-se o observador mais atento da instituições inquestionáveis da vida. Detestava religião, governo e tudo o mais que se incrustava no mais alto patamar da vida humana.
Frequentava um bar mal frequentado - instalado numa esquina não tão imunda como seus transeuntes - e isso bastava para ele.
A visão de quem se encarrapitava nos altos bancos do boteco, porém, não poderia ser mais ironicamente pitoresca: uma igreja. E uma igreja muito famosa entre os bons fieis da cidade. Casamentos mil eram celebrados ali.
Em dias assim, o habitat natural de homens corroídos pelo tempo tornava-se , por vezes, um espécie de arquibancada com vista privilegiada para a saída repleta de arroz. Uns sorriam e batiam palmas como se fossem convidados. Outros apenas olhavam - sem ver de fato, pois talvez olhassem para si mesmos e suas lembranças alegres e dolorosas.
Bukão, no entanto, fitava incrédulo de dentro do bar o casal feliz do outro lado da rua. Via-os sorrindo e acenando para seus parentes e amigos.
Queria ter o poder de decretar o jus primae noctis para destruir a ideia de união eterna em prol do amor puro e verdadeiro.
Queria mostrar aos jovens ingênuos o gosto amargo de que era feita a sua vida. Queria enchê-los não de arroz, mas de rancor e remorso por serem tão tolos.
Mas, não.
Ao invés disso, brindava-os e bebia infindáveis doses até adormecer no balcão e esquecer que um dia ele esteve lá, do outro lado - feliz, sóbrio e coberto de arroz.
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