Oh! A Morte! A bela e inatingível Morte. Aquela que você recusou a enxergar antes e que agora o assustava ainda mais.
Era hora de ir até ela, então.
Você tenta se erguer, mas está fraco. O que pode fazer é rastejar de barriga para baixo, como um verme de visão limitada. E, antes que pudesse chamá-la, você ouve seus passos.
- Olá - diz ela.
Mas não há resposta, pois você se encolhe ainda mais para evitar seu olhar penetrante assim que ela se abaixa para lhe encarar de perto.
- Olá, meu caro. - ela insiste.
- Olá, merda. Dá pra me livrar dessa? Me põe com aquela outra lá de novo. Preciso acertar as contas com ela.
Ela dá uma gargalhada que lhe intriga. É uma mescla de sutileza e maldade. A dose perfeita para alguém tão belo.
- É, oras! Ela saiu sem mais nem menos... Disse que ela não era o que eu pensava que era e sei lá mais o quê... Que papo é esse? Vocês são amiguinhas, não são?! - mas não há resposta de imediato.
Ela se levanta, olha ao redor e deposita as mãos em suas costas. O peso se vai e você agora consegue, mas não quer se virar. Ela então, o puxa ao mesmo tempo em que você fecha os olhos.
Ela lhe encara por alguns instantes. Há um silêncio no qual você se confessa e reza já se entregando aos braços daquela belíssima e cortês dama.
E então, numa surpreendente demonstração de coragem, você abre os olhos. Abre, mas nada vê.
Nada.
É aí, então, que sente os lábios doces e o hálito fresco lhe envolvendo a boca. Aquela sensação de torpor se vai e você é envolvido por uma brisa fúnebre matinal.
Você já não sente quando ela lhe carrega no colo e o deposita na cama. A mesma cama que você deitou tantas vezes com a Vida, sua desejada Vida. Aquela que nunca foi o que você pensava que era.
Era hora de deixar de existir, então.
E basta.
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